quinta-feira, 26 de junho de 2014

MÁ GESTÃO LIMITA ACESSO AO CRÉDITO

MÁ GESTÃO LIMITA ACESSO AO CRÉDITO

Pesquisa mostra que 85% dos entrevistados atribuem dificuldades ao controle de administração

As incertezas que rondam a economia brasileira têm afetado a saúde financeira das empresas, sobretudo em virtude do aumento das taxas de juros e da maior dificuldade de acesso ao crédito. No entanto, observa o sócio da KPMG no Brasil, André Schwartzman, o maior problema dos empreendimentos em crise é de gestão.

Pesquisa realizada em maio pela rede global de consultoria, durante evento sobre gestão e recuperação de ativos e investimentos, revelou que pelo menos 85% dos executivos de instituições financeiras, investidores e empresários atribuem as dificuldades financeiras ao controle de administração. O número de pedidos de recuperação judicial tem aumentado.

"Nesse cenário de incertezas, com tendência de elevação das taxas de juros, aumentam as restrições na hora de conceder financiamentos, principalmente créditos adicionais", analisa Schwartzman, lembrando que as empresas já estão "relativamente endividadas" e que as instituições financeiras observam que a rentabilidade média não vem crescendo na mesma proporção que as taxas de juros.

Entre os setores que mais devem ser atingidos, no prazo médio de um a dois anos, estão o imobiliário e o de construção civil, apontados por 28% dos entrevistados. Ainda de acordo com o levantamento da KPMG, outros segmentos que também sofrerão impacto e que devem fazer um esforço adicional para a reestruturação de seus negócios são os de montadoras e autopeças, apontados por 24%, além de energia (16%) e agronegócio, indicado por 13% dos executivos entrevistados.

Segundo ele, no agronegócio a preocupação é ainda maior, pois muitas empresas do setor operam com gestão familiar, sem profissionalização dos processos. Para 85% dos pesquisados, a economia brasileira, como se vê atualmente, não pode ser considerada a única responsável pelas empresas em crise. Nada menos do que 42% disseram que os problemas são gerados internamente no controle de administração, enquanto outros 43% dividem a responsabilidade entre os fatores internos e externos.

"Esses setores apontados na pesquisa estão com maior dificuldade de renovar os empréstimos", explicou Schwartzman. Segundo ele, para que tenham acesso aos recursos, que estão disponíveis no mercado, mas concedidos de forma mais criteriosa, as empresas devem reestruturar melhor os seus negócios, buscando maior eficiência, ainda que "cortando atividades que não rendam tantos recursos quanto outras". O objetivo, indica ele, é mostrar que tem governança e gestão financeira.

Pedidos de recuperação judicial no país sobem

Entre os principais efeitos dessa conjunção de conjuntura econômica incerta com problemas de gestão empresarial está o aumento nos pedidos de recuperação judicial. Em 2005, quando foi instituída a Lei 11.101, de Falências e Recuperação Judicial de empresas, o número de pedidos não passou de 110. "Houve um pico em 2009, no auge da crise, com 670 pedidos, subindo para 874 no ano passado", diz o sócio da KPMG no Brasil, André Schwartzman.

Entre os motivos para este aumento de pedidos, 41% dos entrevistados atribuem a maior popularização da lei junto aos empresários. Outros 22% indicam a elevação das taxas de juros e restrição de crédito para as empresas, enquanto 15% atribuem a situação à intervenção do governo sobre setores da economia. Outros 13% acreditam que a maior causa é a desaceleração da economia brasileira. "Como o nível de pedidos está bem maior do que em 2009, este aumento pode ser resultado dos fatores externos e de maior difusão da lei", pondera.

Para Schwartzman, perspectivas não muito animadoras quanto à economia brasileira, principalmente no que se refere à alta dos juros e acesso ao crédito, também indicam a necessidade de as empresas se reestruturarem internamente. "Este cenário é de um a dois anos, inclusive porque, independentemente de quem assumir o governo federal, deve haver reajuste de preços ligados à Petrobras e ao setor elétrico. Os custos vão aumentar e a tendência é de elevação das taxas", adverte. A pesquisa mostrou que 90% dos pesquisados acreditam que a taxa básica de juros deve se manter no mesmo patamar ou aumentar até o final de 2015.


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